domingo, 31 de janeiro de 2021

O tudo e o nada.

O sol está em seu auge, os carros estão com pressa e as pessoas andam sem olhar umas pras outras. As ruas estão quentes e o horizonte cinzento, a mesma rota na mesma rotina no mesmo dia a dia.. nada nunca muda por aqui, essa cidade é cruel demais para se importar com a minha dor.
Eu sempre sei o que falar e eu sei que estou atrasado mais uma vez, sou pego de surpresa pela mudança no caminho do ônibus e acabo me distraindo com esquinas que nunca vi em minha vida e mesmo assim são tão nostálgicas que chegam a me fazer lacrimejar.

As nuvens brancas como a neve e o céu azul como minha tristeza fazem contraste com o cinza dos prédios, um dia tão lindo desperdiçado pelas mentiras contadas pelo deserto infértil que é a minha mente. Eu não acredito que sou capaz.
Eu não acredito que mereço ser feliz.
Eu não acredito que eu mereça tudo que tenho. Eu sei que não mereço.

Acordes desafinados ecoam na minha cabeça e então escrevo letras na língua de anjos maléficos, canções nascem dos meus piores momentos, a música se torna um caminho estreito e eu não sei se isso será minha salvação ou então meu último testamento.

Atenção, senhoras e senhores, este homem aqui está prestes a ter uma pane geral, um momento único e muito especial e todos vocês estão convidados a presenciar a queda. Os sistemas centrais estão totalmente sobrecarregados e o painel não está mais funcionando corretamente, o silêncio precede um momento muito ruim.
Eu estou sempre pronto para o pior.

Já passam das 19 horas e a exaustão mental está no auge, nesse momento até andar e falar se torna muito cansativo, a única opção que me resta é escrever.. escrever e escrever até que eu tenha superado essa turbulência.
As luzes estão fracas e o caminho é serrar os dentes e aguentar o tranco.
A distância entre meus passos é calculada com os batimentos cardíacos e minha respiração está absolutamente sobre controle. Quem sou eu?

Todas as palavras que gastei em vão, meus cotovelos estão inquietos e meus joelhos não sabem como reagir, acho que talvez seja melhor eu correr para me acalmar e talvez seja melhor gritar para tentar silenciar. Silenciar tudo. Sou conduzido pela minha memória nesse caminho rotineiro e isso é o que me salva pois sinceramente tudo o que eu agora é poder me sentar e ficar quietinho...

Quantas foram as pessoas que eu salvei ao me sacrificar? Quanto mais eu tenho que aguentar para vencer essa maldita guerra?
Impaciência transbordando em forma de irritação.. Meu tesão é apagado, as cores se tornam transparentes e os sabores deixam de existir, os sorrisos são forçados e mais uma vez uma tempestade chega querendo me ver cometer suicídio. O ar pesado, os pensamentos dissipam perante o som das ambulâncias...
Eu estou no meio fio de uma avenida tentando ser atropelado, eu estou no parapeito dos meus piores temores tentando sobreviver.

Eu vou conseguir vencer essa guerra?

A demora para esclarecer comigo mesmo meus próprios problemas me deixaram preso um bola de neve, indagação em prol de uma melhora me faz ter uma recaída muito agressiva, me sinto inspirado pelo azul do céu (ele é tão sereno que me deixa com inveja). Queria dançar e comemorar que eu estou vivo, que estou respirando, que sou capaz de sorrir e amar, beber, fumar, gozar, chorar e sentir... mas isso seria apenas uma atuação pois eu praticamente não sinto mais prazer algum algum em viver.

Dívidas com a morte se acumulam pelos cantos do meu coração tristonho, o cansaço das minhas ações é apenas reflexo de uma longa batalha para estar aqui.
O território desse tereno é nobre, e eu já vivi muitas outras vidas em meus sonhos e agora nada mais disso é capaz de me fazer dormir... entre meus dedos eu sinto esvair minhas chances de ser alguém melhor, eu sinto que talvez seja o momento apropriado para recuar e tentar uma trégua.

A realidade pode não agradar a todos e machucar alguns, as horas voam e eu nunca consigo produzir nada... as minhas falhas se acumulam e todas acabam se tornam um doloroso remorso que me assombra toda vez que eu tento dormir.
Dormir é uma dádiva concedida apenas para aqueles que não tem medo de viver.
Arrependimentos me protejem de  pesadelos até o raiar do sol iluminar meu quarto... quando eu vou ter paz?

Eu entrego palavras motivadas para que eu consiga me convencer, o tempo definitivamente não é meu aliado nessa guerra. Caos ponderado numa terça-feira absolutamente rotineira, a espera é um raro momento de calma na minha cabeça e a fome por algo a mais me mantém motivado a continuar tentando, os perigos do mundo não são nada comparados ao perigo que eu sou a mim.

Cego demais pela minha incompetência para conseguir ver uma maneira de alcançar uma vitória, fugindo dos pensamentos obscuros que querem me derrubar e desviando das dicas de novas maneiras de cometer suicídio deixadas pelo destino... negando que estou numa péssima situação, caçando a direção que possa me salvar, e eu sinto que estou pronto para me matar para que eu não me mate.

Os cacos de vidros jogados pelo chão não machucam meus pés pois esse vento forte corta muito mais, dormir ainda é difícil e comer se também se torna um escape da contradição. O barulho das avenidas abafa meus gritos por ajuda, as luzes da cidade me guiam de volta para lugares que eu queria esquecer... tudo se torna muito mais pesado do que posso suportar e as coisas estão muito mais rápidas do que eu consigo acompanhar.

O valor dos meus atrasos que só eu sei qual é, o descaso pelas minhas boas ações, a densidade negativa de todos aqueles pensamentos, as vezes que eu não consegui dizer como eu me sentia.
Os moldes do tempo agiram de forma tão precisa que chega a ser assustador.
Eu escrevo e escrevo e escrevo.. textos e mais textos apenas para tentar explicar como que eu me sinto para amenizar a dor que eu sinto em cicatrizes antigas.

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