O formato dos meus erros é sombrio, a cor da minha culpa é cruel.. a sombra da minha voz desapareceu... eu quero ter estabilidade, eu quero estar no controle. Os dias mais felizes sempre estão cobertos por um filtro acinzentado, as melodias continuam vazias e os agudos silenciosos... eu estive tentando voar.. e não importa o que aconteça eu sempre acabo querendo morrer... eu sonhei que eu combatia o mal que me assombra e nesse sonho eu descobri que eu tenho que me matar para vencer.
O que tem de errado comigo?!
Toda a minha culpa vem me dando dor nos ombros.. eu ando de cabeça baixa e olhos caídos, eu ando vazio e sorrio calorosamente pro horizonte... estas esquinas estão tão frias ultimamente e essas avenidas estão crueis demais.. toda a cidade está cinza. Os anos estão correndo e eu continuo parado no tempo.. flores degrade e prédios públicos, meus olhos não aguentam mais isso. O retrato dos meus pensamentos me assutou, a indicação que sou um perdedor nato. Estive buscando por dias melhores, estive sorrindo pra me convencer que eu gosto de sorrir, estive evitando chorar pra tentar esquecer quem eu realmente sou. Todas as despesas e dívidas dos meus pecados estão para vencer... eu tenho que pagar esse débito com meu sangue. Eu devo morrer para purificar o mundo.
O desespero e o despreparo são partes vitais do meu empreendimento, eu sou um servo imprestável, estou tentando chorar... meu grito ecoa no vazio do meu peito, é agonizante todo esse barulho a minha volta. Estou atrasado novamente, me encaminho a mais um dia ilógico. As pétalas foram arrancadas - e eu sei quem fez isso - eu posso sentir mesmo toda essa paz? Eu tenho o direito de sorrir?? Eu tenho mesmo o direito de ser feliz?!
Eu sou o meu maior inimigo.
Eu ainda escuto... eu ainda consigo ouvir os anjos e suas melodias maléficas, tocando suas trombetas magnificamente desafinadas, eles me odeiam e eu os amo, eles estão sempre por perto, implorando e chorando pelo meu suicídio, eles aparecem toda noite em meus sonhos me inspirando de forma macabra e aterrorizante para eu me enforcar, eles estão todos esperando ansiosamente pelo meu momento mais frágil para então atenciosamente me entregarem uma corda. Eu tenho que sofrer, eu quero e mereço morrer, e tem que doer.. doer muito mesmo, eu tenho que sentir a pele rasgar e o sangue jorrar, eu tenho que sentir a dor, eu devo assistir de olhos bem abertos e garganta seca, destruir essa fraca estrutura. Eu estou novamente preso nesse maldito deserto infértil que é a minha mente. Meu dever é salvar a todos desta praga imunda que eu sou, devo erradicar essa maldição, vencer esse câncer, eu deveria simplesmente morrer. Me desculpem e me perdoem, eu não tenho controle sobre meus pensamentos e essas vontades insanas.. elas me invadem e transformam, elas são genuínas e sinceras, medonhas e calorosas.
Não me desculpe. Apenas me odeie.
Queimem minhas memórias, odeiem cada lembrança comigo, me culpem e me esqueçam.. esqueçam o formato do meu sorriso e o som da minha voz, lembrem-se sempre que eu fui um câncer em suas vidas, queimem as fotos e apaguem nossas histórias. Eu não mereço lágrimas, não mereço ser martirizado. Eu sou viral e destrutivo, sou invisível e instável.. eu terei todos os meus ossos quebrados, eu sou uma pessoa ordinária, eu tenho tempo e eu não sei o que fazer com isso.. eu tenho asas saudáveis que se negam a me fazer voar.
Sou um suicídio.
Eu sou uma ponte sem pilares, um prédio sem estrutura...eu encontrei a verdade nas minhas maiores cicatrizes, eu encontrei as mentiras sobre os escombros da minha maior tempestade. Eu encontrei com o Diabo quando olhei pra mim. O sol está tímido.. como posso recuperar a vontade de viver? A vontade de sorrir? De amar? De foder? De chorar?
Estive andando por ruas tão frias e praças tão genéricas.. tudo começou numa manhã de Abril, um nascimento amaldiçoado que nunca deveria ter acontecido... agora é a chance perfeita para escrever palavras sobrecarregadas de ódio. Meu destino foi desenhado para que este remorso todo fosse minha pele, e meu dna transborda toda a culpa que nunca desaparece. Todos estão alinhados esperando para me crucificar, eu estou perdido em pensamentos perigosos demais.. deitado no chão e perto demais para notar, por favor me ajudem a morrer.
Meu compromisso será adiado.
Estou afiado e chorando, sem perspectiva do que eu devo fazer.. tudo parece tão emaranhado e confuso, todos os rostos estão embaçados.. eu esqueci como dar risadas.. eu juro que eu estou tentando me manter firme... eu perdi o controle de novo e estou na ponte entre a vida e o suicídio. Aonde estou? Quem sou? Eu apenas sei que não mereço ser feliz.